A INCRÍVEL HISTÓRIA DO HOMEM QUE ASSINAVA UM NOME QUE NÃO TINHA
João Bosco Miquelão
Corria o ano de 1930 quando ele saiu de Rio Casca para trabalhar numa pequena
cidade próxima a Belo Horizonte. A fama
dos patrões, ingleses, era boa; diziam que eles pagavam em dia, e, assim, ele
resolveu tomar um rumo diferente de seus outros dois irmãos José e Augusto:
saiu de Rio Casca para trabalhar em Raposos.
Ele viajou sem nenhum documento. As exigências burocráticas eram mínimas. Como
era forte, disposto, falante e de bons modos, não houve quaisquer problemas
para sua admissão. Ele informou o nome e endereço do próprio punho, uma aptidão
pouco comum a um trabalhador braçal naquela época, e logo começou a trabalhar.
A sua pontualidade, esforço e boa vontade logo chamaram atenção dos seus
superiores. Depois de pouco mais de um ano já não pegava no pesado – fora
promovido a ascensorista do enorme elevador que transportava cargas e
trabalhadores no poço principal da mina, serviço que executava com maestria, o
que muito agradou os administradores da mina. Ganhara até um apelido carinhoso:
“Antônio Vermelho”.
Em 1932 o governo instituiu a carteira de trabalho. Para emissão do novo documento
era necessário apresentar a certidão de nascimento, e a companhia concedeu a
ele uma licença de alguns dias para conseguir uma cópia da tal certidão.
Ele viajou à cidade de Visconde do Rio Branco, sua cidade natal.
Mas voltou triste e decepcionado: o cartório de registro civil não
encontrara nenhum assentamento com o seu nome.
Como o gerente da mina gostava dele e admirava sua dedicação ao trabalho,
resolveu conceder-lhe nova oportunidade – ele ganhou nova licença e também foi
aconselhado a insistir com o funcionário do cartório e até oferecer a este uma
recompensa financeira caso ele tivesse que fazer uma busca mais apurada fora do
horário de expediente.
Mediante os dados de que dispunha – data de nascimento, seu prenome
Antônio, nome dos pais e até o nome do padrinho, ele conseguiu a tão desejada
certidão de nascimento.