sábado, 5 de fevereiro de 2022

CRÔNICA DE HOJE

 A INCRÍVEL HISTÓRIA DO HOMEM QUE ASSINAVA UM NOME QUE NÃO TINHA 

João Bosco Miquelão

Corria o ano de 1930 quando ele saiu de Rio Casca para trabalhar numa pequena cidade próxima a Belo Horizonte.  A fama dos patrões, ingleses, era boa; diziam que eles pagavam em dia, e, assim, ele resolveu tomar um rumo diferente de seus outros dois irmãos José e Augusto: saiu de Rio Casca para trabalhar em Raposos.  

Ele viajou sem nenhum documento. As exigências burocráticas eram mínimas. Como era forte, disposto, falante e de bons modos, não houve quaisquer problemas para sua admissão. Ele informou o nome e endereço do próprio punho, uma aptidão pouco comum a um trabalhador braçal naquela época, e logo começou a trabalhar.

A sua pontualidade, esforço e boa vontade logo chamaram atenção dos seus superiores. Depois de pouco mais de um ano já não pegava no pesado – fora promovido a ascensorista do enorme elevador que transportava cargas e trabalhadores no poço principal da mina, serviço que executava com maestria, o que muito agradou os administradores da mina. Ganhara até um apelido carinhoso: “Antônio Vermelho”.

Em 1932 o governo instituiu a carteira de trabalho. Para emissão do novo documento era necessário apresentar a certidão de nascimento, e a companhia concedeu a ele uma licença de alguns dias para conseguir uma cópia da tal certidão.

Ele viajou à cidade de Visconde do Rio Branco, sua cidade natal.

Mas voltou triste e decepcionado: o cartório de registro civil não encontrara nenhum assentamento com o seu nome.

Como o gerente da mina gostava dele e admirava sua dedicação ao trabalho, resolveu conceder-lhe nova oportunidade – ele ganhou nova licença e também foi aconselhado a insistir com o funcionário do cartório e até oferecer a este uma recompensa financeira caso ele tivesse que fazer uma busca mais apurada fora do horário de expediente.

Mediante os dados de que dispunha – data de nascimento, seu prenome Antônio, nome dos pais e até o nome do padrinho, ele conseguiu a tão desejada certidão de nascimento.

Para sua surpresa ele também descobriu que foi o seu padrinho que o registrara, mantendo sua data de nascimento e os verdadeiros nomes dos pais, mas alterando seu sobrenome. Naquele dia Antônio Vermelho descobriu que seu verdadeiro nome não era Antônio Miquelão, e sim Antônio dos Santos.