quarta-feira, 1 de junho de 2022

DICA PARA MANTER A SAÚDE - O tabagismo e o câncer de boca: fumar é o principal fator de risco.

 Entenda como a sua saúde bucal pode estar ameaçada


Muito já se fala sobre a relação estreita entre o câncer e o hábito de fumar. Esse essa consequência do uso de produtos de tabaco surge, inclusive, como uma das mais lembradas entre as pessoas e, claro, uma das mais temidas. Vale dizer que esse medo não é em vão, pois o tabagismo é responsável pelo surgimento de pelo menos 50 doenças, incluindo diversos tipos de câncer.

Para se ter uma ideia ainda maior da gravidade, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) mostra que a fumaça do tabaco contém mais de 7 mil compostos e substâncias químicas. Pelo menos 69 desses produtos provocam câncer, segundo estudos apontados pelo INCA. Assim, fica fácil entender que até mesmo o tabagismo passivo é perigoso.

Aprofundando um pouco mais nesse universo de enfermidades relacionadas ao fumo, o câncer de boca surge como um dos mais recorrentes entre os fumantes, e pertence ao grupo de tumores de cabeça e pescoço. Uma doença que afeta principalmente o público masculino.

É bom lembrar que o perigo do cigarro e de outros produtos de tabaco ganha um incentivo a mais quando associado ao álcool. O ato de fumar enquanto se ingere bebidas alcoólicas, super comum nos momentos de descontração e lazer, como em bares e festas, pode aumentar em 19 vezes a chance de ter câncer nessa região. Isso sem falar que muita gente associa um comportamento ao outro e, assim, eles se fortalecem e se estimulam. Tem até mesmo o “fumante social”, que só fuma enquanto bebe.

Vale lembrar que o risco não se limita apenas ao cigarro. Charuto, cachimbo, fumo de rolo, rapé, narguilé e outros produtos derivados de tabaco também compartilham dos mesmos riscos, inclusive para o surgimento dos tumores na cavidade oral.

O que é o câncer de boca?

Entrando mais no detalhe dessa doença, o câncer de boca é um conjunto de tumores malignos que afeta várias regiões da boca como: lábios, língua, gengiva, céu da boca entre outras.

No Brasil, ele já é o quinto tipo de câncer mais frequente entre os homens: a estimativa é de 11.180 novos casos por ano para o período de 2020 a 2022. No caso das mulheres, a doença ocupa a 13ª posição, com estimativa de 4.010 novos casos por ano. Apesar da cavidade oral ser um local de fácil acesso e visibilidade, o maior desafio dessa doença é o diagnóstico precoce, o que prejudica e muito o tratamento e prognóstico do paciente. 

Talvez a explicação para isso seja o aspecto inicial da doença. Isso porque logo no começo, as lesões são assintomáticas e podem ser confundidas com aftas. Porém, com o passar do tempo e com a evolução do tumor, outros sinais e sintomas surgem como: úlceras que não cicatrizam, dor, sangramento e presença de  uma massa na cavidade oral.

Nos casos mais avançados, é possível perceber danos ainda maiores, como o comprometimento dos nervos cranianos, perda dos dentes, dificuldade para abrir a boca e engolir, perda de peso e rouquidão. Por conta do diagnóstico tardio, essa é uma doença que tem altos índices de mortalidade. Em 2018, por exemplo, ocorreram 6.455 óbitos por câncer de lábio e cavidade oral, sendo 4.974 em homens e 1.481 em mulheres.


 Fonte: https://saudebrasil.saude.gov.br/eu-quero-parar-de-fumar/o-tabagismo-e-o-cancer-de-boca-fumar-e-o-principal-fator-de-risco.

Contato com este blogconslocsaudepompeia@gmail.com.


sábado, 5 de fevereiro de 2022

CRÔNICA DE HOJE

 A INCRÍVEL HISTÓRIA DO HOMEM QUE ASSINAVA UM NOME QUE NÃO TINHA 

João Bosco Miquelão

Corria o ano de 1930 quando ele saiu de Rio Casca para trabalhar numa pequena cidade próxima a Belo Horizonte.  A fama dos patrões, ingleses, era boa; diziam que eles pagavam em dia, e, assim, ele resolveu tomar um rumo diferente de seus outros dois irmãos José e Augusto: saiu de Rio Casca para trabalhar em Raposos.  

Ele viajou sem nenhum documento. As exigências burocráticas eram mínimas. Como era forte, disposto, falante e de bons modos, não houve quaisquer problemas para sua admissão. Ele informou o nome e endereço do próprio punho, uma aptidão pouco comum a um trabalhador braçal naquela época, e logo começou a trabalhar.

A sua pontualidade, esforço e boa vontade logo chamaram atenção dos seus superiores. Depois de pouco mais de um ano já não pegava no pesado – fora promovido a ascensorista do enorme elevador que transportava cargas e trabalhadores no poço principal da mina, serviço que executava com maestria, o que muito agradou os administradores da mina. Ganhara até um apelido carinhoso: “Antônio Vermelho”.

Em 1932 o governo instituiu a carteira de trabalho. Para emissão do novo documento era necessário apresentar a certidão de nascimento, e a companhia concedeu a ele uma licença de alguns dias para conseguir uma cópia da tal certidão.

Ele viajou à cidade de Visconde do Rio Branco, sua cidade natal.

Mas voltou triste e decepcionado: o cartório de registro civil não encontrara nenhum assentamento com o seu nome.

Como o gerente da mina gostava dele e admirava sua dedicação ao trabalho, resolveu conceder-lhe nova oportunidade – ele ganhou nova licença e também foi aconselhado a insistir com o funcionário do cartório e até oferecer a este uma recompensa financeira caso ele tivesse que fazer uma busca mais apurada fora do horário de expediente.

Mediante os dados de que dispunha – data de nascimento, seu prenome Antônio, nome dos pais e até o nome do padrinho, ele conseguiu a tão desejada certidão de nascimento.

Para sua surpresa ele também descobriu que foi o seu padrinho que o registrara, mantendo sua data de nascimento e os verdadeiros nomes dos pais, mas alterando seu sobrenome. Naquele dia Antônio Vermelho descobriu que seu verdadeiro nome não era Antônio Miquelão, e sim Antônio dos Santos. 


domingo, 2 de janeiro de 2022

CRÔNICA DE HOJE

                                                     A visita do Presidente

João Bosco Miquelão

 

Com o início de sua construção, em 1957, a Usina de Três Marias era considerada pelo Presidente JK como uma das mais importantes obras de seu governo.

A maior barragem de terra do mundo àquela época tinha a função de regularizar a vazão do Rio São Francisco, atenuando as terríveis enchentes que atormentavam periodicamente a cidade de Pirapora. A conclusão da obra também propiciaria ao grande rio chegar com pouca alteração de volume na região do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, quer na seca, quer na época de chuvas.

Três Marias também irrigaria o cerrado e geraria quase 400 mil kW, uma importante contribuição para uma indústria que crescia e demandava energia elétrica desesperadamente.

O acampamento dos que trabalhavam na obra era uma pequena cidade com comércio e dotado de vários serviços essenciais - correios, corpo de bombeiros e até uma delegacia de polícia e clube de recreação.

Depois de concluída a obra, em 1962, todas as edificações e sua infraestrutura passaram a fazer parte do distrito de Barreiro Grande, do município de Corinto, nome da localidade de Três Marias antes de emancipar-se.

Mas, voltemos à época da construção da grande usina. O acampamento dos norte-americanos era admirado por sua beleza e organização. Cada casa era pintada com uma cor diferente, cada uma ostentando um belo jardim e uma placa com o nome da família moradora – Rohrman’s, White’s, Mc Cormack’s etc.

Durante o seu governo, Juscelino fez várias visitas-surpresas ao canteiro de obras da usina. O administrador geral da construção já ficava arrepiado quando via na mão do contínuo o radiograma com a palavra urgente impressa em vermelho, uma mensagem que avisava sobre o pouso do bimotor Beechcraft com uma antecedência que raramente excedia 30 minutos.

A correria era geral, pois a visita do Presidente sempre coincidia com o horário de almoço, e o frango com quiabo, prato predileto de Juscelino, não podia faltar.

Essas visitas do Presidente continuaram cada vez mais frequentes até o final do seu governo em janeiro de 1961.

Jânio Quadros não chegou a visitar Três Marias nos sete meses em que governou.

Na programação para a inauguração da grande obra, prevista para o dia 25 de julho de 1962, estava acertada a presença do sucessor de Jânio Quadros, João Goulart.

A administração da obra levou um enorme susto no dia 20 daquele mês ao receber um radiograma do escritório de Brasília com a seguinte informação: “Favor colocar veículo à disposição de João Goulart, que chegará ao aeroporto de Três Marias hoje, dia 20, às 17 h”.

Todos fizeram a mesma pergunta: por que o Presidente faria duas viagens a Três Marias num intervalo de cinco dias? 

E a correria foi geral, como nos tempos de Juscelino. Pelo adiantado da hora, o Presidente certamente iria jantar no acampamento e, provavelmente, até pernoitar no pequeno hotel de visitantes.

 Às 17 horas, pontualmente, o avião aterrissou no aeroporto. A comitiva, composta pelo superintendente da obra, o delegado de polícia e mais alguns funcionários graduados ficaram intrigados com um detalhe fora do comum: por que o Presidente havia decidido viajar num monomotor, um avião tão minúsculo?

E logo o mistério ficou esclarecido: João Goulart, ao descer do avião, mostrou-se visivelmente constrangido com aquela recepção, pois nunca tantas pessoas o haviam esperado na chegada a uma obra. Afinal, ele, João Geraldo Esteves Goulart, era somente o chefe do Departamento de Transportes da empresa.

--- Do livro Plinia trunciflora e outras crônicas (MIQUELÃO, João Bosco. Niterói: Alternativa, 2016 – ISBN 978-85-63749-57-4).

sexta-feira, 18 de junho de 2021

 

O imitador mentiroso

João Bosco Miquelão

Junho de 1980. Geraldo, conhecido como “Mentirinha”, era um torneiro-mecânico dos bons, mas o que fazia mesmo com perfeição tinha a finalidade de distrair os amigos: ele era um excelente imitador, tinha uma mímica impecável e excelentes recursos de voz.

“Mentirinha” gostava de contar casos, sempre com pinceladas exageradas dos fatos, quando não inventava detalhes. Na verdade, fazia jus ao apelido, pois era também um exímio mentiroso.

Fazendo caretas engraçadas, suas imitações de Pato Donald, Popeye, Cid Moreira, do Presidente Figueiredo e de muitos outros personagens atraíam os fregueses dos botecos que frequentava.

Apesar de não ter um tórax avantajado, Geraldo tinha uma voz poderosa. Se fosse cantor lírico seria classificado como barítono grave.

Além de imitador, “Mentirinha” também gostava de pregar peças ao telefone. Alguns amigos chegaram a sofrer com suas brincadeiras cruéis e maquiavélicas.

Talvez seja lenda: dizem que ele foi audacioso a ponto de criar embaraços para algumas autoridades em duas ocasiões no governo militar, quando imitou o Governador Francelino Pereira, de Minas Gerais, e o General Newton Cruz – este último era conhecido como dono de uma voz firme e autoritária.

Depois de pregar suas peças, o imitador gostava de rir das vítimas, contando suas façanhas à roda de amigos e admiradores.

Era domingo. Uma vizinha do mentiroso estava saindo para ir à missa das dez horas quando teve que voltar para atender ao telefone.

Ela ficou pálida, começou a tremer, não conseguiu conter a emoção e foi à missa com cara de choro.

Na hora da homilia estava tranquila e feliz com a boa notícia que daria naquele momento.

O padre termina a pregação e vira-se para retornar ao altar. Ela fica de pé, levanta a mão e diz em voz bem alta:

- Quero dar uma boa notícia ao povo desta paróquia!

A mulher nem espera o consentimento do padre. Caminha em direção ao sacerdote, sobe um degrau do presbítero, vira-se de costas para o altar e anuncia:

- Hoje, ao sair de casa para vir à igreja, recebi um telefonema do Santo Padre. O Papa João Paulo II me informou que, na vinda à nossa cidade, em julho, pretende visitar uma família de nosso bairro, e a minha casa foi escolhida! Como estou feliz, minha gente!

O padre fica atônito, franze as sobrancelhas e não sabe o que dizer.

A comoção é geral. Murmurinho, risos e até palmas são ouvidas.

Diante da repercussão causada pelo acontecimento, Geraldo “Mentirinha”, por precaução, achou melhor não divulgar, imediatamente, mais uma de suas maldades.

Entretanto, essa cautela durou pouco. O rapaz era vaidoso, e como um guerreiro vitorioso que gosta de falar de suas batalhas, ele acabou relatando o fato a alguns amigos, repetindo com fidelidade as palavras com que convenceu a pobre senhora de que era o Papa.

Também pudera!  Aquele sotaque polonês convenceria até o bispo!

E a notícia de que fora vítima de uma brincadeira de mau gosto chegou aos ouvidos da velhinha.

Indignada com o papel ridículo que fizera, ela não teve dúvidas: procurou a polícia e registrou uma queixa contra Geraldo.

Cumprindo as formalidades de praxe, o delegado intimou ambas as partes para comparecimento à delegacia.

A vítima chega acompanhada de um advogado.  Geraldo comparece sozinho.   

O delegado lê em voz alta a queixa e pergunta se Geraldo confirma aquilo tudo.

O torneiro-mecânico abaixa a cabeça e diz humildemente:

- Sim, senhor!

O delegado passa-lhe uma descompostura, compara-o a um moleque desclassificado e ameaça prendê-lo. Como ele teve coragem de fazer tal maldade com uma pessoa idosa e tão indefesa?

Geraldo pigarreia, e com voz grave diz:

- Peço sinceras desculpas a esta senhora. Que ela me perdoe!

E, num gesto patético, levanta-se, toma ambas as mãos da mulher e as beija.

A mulher se comove e acena afirmativamente com a cabeça: Geraldo está perdoado!

O delegado se mostra satisfeito com o desfecho do caso e diz:

- Quero saber o que você disse a ela no telefonema.

“Mentirinha” não se faz de rogado. Levanta-se, pigarreia, assume um ar solene, cruza os braços diante da barriga e com voz empostada demonstra sua qualidade de excelente imitador: repete tudo num português carregado, repleto de erres - como se o próprio Papa estivesse falando diante deles.

O delegado fica impressionando com aquela imitação, não se contém e acha graça. Todos começam a rir, até o próprio advogado da vítima.

Como se arrependendo do perdão concedido há pouco, a mulher levanta-se furiosa e deixa a delegacia xingando:

- Safados! Vocês são todos uns sem-vergonha!

--- Do livro Plinia trunciflora e outras crônicas (MIQUELÃO, João Bosco. Niterói: Alternativa, 2016 – ISBN 978-85-63749-57-4).

segunda-feira, 7 de junho de 2021

COISAS QUE O TEMPO NÃO APAGA

 

   O PROPAGANDISTA

 

 

João Bosco Miquelão

 

 

 

 

Corria o ano de 1960, e ele orgulhava-se de seu trabalho. Nessa época, trabalhar como propagandista de laboratório farmacêutico multinacional conferia muito prestígio à pessoa que exercia tal atividade.  

                 Ele ganhava relativamente bem e gostava do que fazia. Exercia suas atividades com zelo e dedicação junto a farmácias, consultórios médicos, hospitais, clínicas e laboratórios.

                 As pessoas que trabalhavam nas farmácias eram amigas, e os médicos lhe dispensavam um excelente atendimento - não havia espera: a recepcionista o anunciava e, imediatamente, entre a saída de um paciente e a entrada de outro estava ele colocando em prática o que exercitara em casa e havia aperfeiçoado com o supervisor: a apresentação de um novo produto com todos os seus termos técnicos e fórmulas químicas! Tudo muito bem decorado - até os gestos, - meticulosamente estudados.

                 O doutor, na maioria das vezes, prestava muita atenção no falatório ou fingia fazê-lo. Valia a pena, pois, além da "literatura", que, na maioria das vezes, ia diretamente para o cesto de lixo, havia pequenos brindes, e, quase sempre, essas visitas também rendiam uma grande quantidade de amostras grátis.

Estava noivo, mas nem por isso havia desistido de comprar o carro. Se os negócio se mantivessem nos mesmosveis dos meses anteriores, as comissões não  haveriam de cair, e ele ainda poderia contar com uma gratificação!.

A gerência regional estava empenhada em cobrir as metas estabelecidas pela matriz. Isso significava pontos para a filial e dinheiro extra no bolso de todos.

Recebendo o dinheiro extra, pensava ele, poderia pagar a prestação dos móveis novos e reservar uma boa quantia para realizar aquele grande sonho de consumo: a entrada no pagamento de um fusca zero, do ano 1960!

Era importante fazer muito esforço para a cota ser atingida, inclusive visitar aquela farmácia tão distante.

 A tarde chegava ao fim. Depois de visitar a farmácia longínqua e realizar boas vendas, descobriu que uma quantia bem menor, para pagar a passagem de ônibus, resolveria seu problema mais imediato - estava sem dinheiro para voltar ao centro da cidade! Esquecera-se de que saíra de casa com pouco dinheiro e de que também gastara com o almoço, cafezinhos e cigarros.

Pedir emprestado ao dono da farmácia seria inimaginável. A ideia de voltar a também não o animava, pois o percurso era longo, a tarde estava quente, usava paletó e gravata, e a noite não tardaria; bem vestido e carregando uma linda pasta, seria um alvo fácil para ladrões.

 

- “Sou um sujeito de sorte, meu problema está resolvido”, disse baixinho, ao avistar um ex-colega de colégio no ponto final do ônibus.

Ele caminhou em direção ao rapaz. Este, pouco cerimonioso, cumprimentou-o e foi logo dizendo:

 - “Ótimo encontrar você aqui: estou sem dinheiro e quero que pague a minha passagem!".

 

              ---- Esta crônica representa uma homenagem a um amigo que já se foi. Meu professor do jogo de  xadrez,  com quem mantive excelente convivência durante mais de meio século. Ficaram dele boas lembranças, inclusive o episódio acima que ele me relatou.

Contato: jbmiquelao@gmail.com.